O Primeiro Congresso Mundial Romani, Um Marco na História dos Rom

Antes do emblemático Congresso Mundial Romani de 1971, movimentos significativos já buscavam fortalecer a cultura Romani e assegurar direitos. Entre as duas guerras mundiais, esses esforços se intensificaram. No entanto, foi após a Segunda Guerra Mundial que adquiriram uma escala global. Em 1959, Ionel Rotaru fundou a World Gypsy Community na França, conectando Romani de diversos países, como Romênia, Polônia, Canadá e Turquia. Rotaru propôs a criação do “Romanistão”, um país para os Romani. Contudo, o governo francês dissolveu essa organização em 1965.

A crescente conscientização sobre a necessidade de um movimento unificado levou à formação de várias organizações em diferentes países. Esses esforços visavam não apenas a preservação da cultura Romani, mas também a reivindicação de direitos civis e políticos. A perseguição sofrida pelos Romani durante a Segunda Guerra Mundial, especialmente durante o Holocausto, onde milhares de ciganos foram mortos, intensificou a urgência dessas iniciativas. A partir da década de 1960, a comunidade internacional começou a reconhecer a necessidade de abordar as questões dos Romani em um nível global.

Gelem Gelem – Hino Cigano Por: Caravana Varekai do canal @martavarekai

O Surgimento do International Gypsy Committee

Em 1965, Vanko Rouda, um Rom boyásh da Argélia, formou o International Gypsy Committee (IGC) com o objetivo de buscar reparações pelos crimes de guerra contra os Romani e promover uma colaboração internacional mais ampla. Rouda, junto com outros líderes, reuniu uma diversidade de organizações e vozes romani, criando uma base sólida para o futuro Congresso Mundial Romani.

Rouda era um visionário que via a necessidade de uma voz unificada para os Romani no cenário global. Ele acreditava que somente através da união os Romani poderiam alcançar uma verdadeira emancipação e reconhecimento. Sob sua liderança, o IGC organizou eventos e reuniões para discutir os desafios enfrentados pelos Romani e as possíveis soluções. O trabalho do IGC foi fundamental para estabelecer as bases para o Primeiro Congresso Mundial Romani.

O Primeiro Congresso Mundial Romani

O primeiro Congresso Mundial Romani ocorreu em 8 de abril de 1971, em Orpington, perto de Londres. Esse evento histórico contou com a participação de representantes de dez países e observadores de outros quatro. Durante o congresso, delegados definiram símbolos fundamentais para a identidade Romani: a bandeira e o hino. A bandeira, com suas cores azul e verde e a roda de carroça vermelha, simboliza a liberdade e a mobilidade do povo Romani. O hino “Gelem, Gelem” se tornou uma peça central da cultura e identidade romani.

A escolha desses símbolos foi um momento de grande significado e emoção para os delegados presentes. A bandeira se inspirou na bandeira da Índia, refletindo as origens indianas dos Romani. A roda vermelha simboliza tanto a herança nômade quanto a opressão e resistência. O hino, composto por Žarko Jovanović, é uma canção que fala sobre a jornada e as lutas dos Romani. Durante o congresso, os delegados também adotaram a palavra “Rhomá” em detrimento de outras variantes de “cigano”, marcando um passo importante na autoidentificação e no orgulho étnico.

Legado e Impacto Duradouro

Uma das realizações mais significativas do Congresso foi a instituição do dia 8 de abril como o Dia Internacional dos Rhomá. Este dia celebra a cultura Romani e simboliza a luta contínua por direitos e reconhecimento global. O International Gypsy Committee se transformou no Komiteto Lumniako Romano (Comitê Romani Internacional) e, posteriormente, na International Romani Union, consolidando uma estrutura formal para a defesa dos direitos romani a nível global.

O impacto do Congresso de 1971 se fez sentir de muitas maneiras. A criação de uma identidade romani unificada e a adoção de símbolos comuns fortaleceram a coesão entre as comunidades Romani dispersas pelo mundo. Além disso, o congresso trouxe visibilidade às questões enfrentadas pelos Romani, atraindo a atenção de governos, organizações não governamentais e a mídia. Desde então, a International Romani Union se tornou uma plataforma importante para a advocacia de direitos e a promoção da cultura Romani.

A partir de 1971, vários outros congressos foram realizados, cada um construindo sobre os fundamentos estabelecidos no primeiro. Esses encontros continuam a discutir e desenvolver estratégias para a promoção dos direitos civis, educação, cultura e reparações históricas. A International Romani Union desempenha um papel crucial na representação dos Romani em fóruns internacionais, incluindo a ONU e a União Europeia.

Reconhecimento e Continuação da Luta

O legado do Primeiro Congresso Mundial Romani vai além da simples adoção de símbolos. Ele representou um passo fundamental na unificação e mobilização dos Romani em todo o mundo. O reconhecimento internacional do Dia dos Rhomá e a adoção de uma identidade nacional e cultural comum ajudaram a fortalecer a coesão e a visibilidade do povo Romani.

A luta pelos direitos dos Romani continua até hoje. Apesar dos progressos significativos feitos desde 1971, os Romani ainda enfrentam discriminação, marginalização e violência em muitas partes do mundo. No entanto, a existência de um dia internacional dedicado aos Romani e a continuidade dos congressos mundiais são testemunhos da resiliência e determinação da comunidade Romani. Esses eventos fornecem uma plataforma para os Romani se organizarem, discutirem suas questões e formularem estratégias para alcançar a igualdade e a justiça.

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